Os portos precisam de pontes

Olá leitores,

Portos são conectores de modais. Neste sentido, o sistema portuário se apresenta como um integrador logístico entre diferentes tipos de modais, plataformas logísticas com diversas inter-relações, um vetor de desenvolvimento econômico e forte relacionamento e interação com a indústria marítima e a comunidade local.

Os portos conectam os modais rodoviários, aquaviários e dutoviários, diretamente. Porém, estamos vivendo um momento de mudanças de paradigmas.

Em 1976, Milton Friedman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, afirmou: a responsabilidade social das empresas é apresentar lucro aos acionistas. Em 2020, o Fórum Econômico Mundial publicou o seu manifesto Stakeholders for a Cohesive and Sustainable World, reafirmando a necessidade das organizações aderirem ao Capitalismo de Stakeholders. Publicaram também o Code of ethics for businesss leaders declarando que “O objetivo da gestão profissional é servir clientes, acionistas, trabalhadores e empregados, bem como as sociedades, e harmonizar os diferentes interesse das partes interessadas”.

Klaus Schwab define Capitalismo de stakeholders como uma forma de capitalismo em que as empresas não apenas otimizam os lucros de curto prazo para os acionistas, mas buscam a criação de valor de longo prazo, levando em consideração as necessidades de todos os seus stakeholders.

Em 19 de agosto de 2019, quase 200 CEOs das maiores empresas da América criação o projeto Business Roundtable e adotaram uma nova Declaração sobre o Propósito de uma Corporação declarando que as empresas devem entregar valor de longo prazo a todos os seus stakeholders – clientes, funcionários, fornecedores, as comunidades em que operam, e acionistas. Na Declaração eles se comprometem a: entregar  valor aos clientes; investir nos funcionários; lidar de forma justa e ética com os fornecedores; apoiar as comunidades em que trabalham e gerar valor de longo prazo para os acionistas.

John Elkington é para a sustentabilidade, o mesmo que Kotler é para o Marketing, Porter para a estratégia, foi o formulador do conceito do tripé da sustentabilidade. Em 2020 ele publicou o livro Green Swans, Cisnes verdes, onde ele defende o conceito de Capitalismo regenerativo que é um sistema econômico baseado na economia circular, green finance, empresas e sociedade trabalhando em parcerias e colaborações e um progresso exponencial na forma de criação de riqueza econômica, social e ambiental.

E como estes novos paradigma se relacionam com os portos? Chegamos então no conceito de Relação porto-cidade que já tratamos em outros artigos. A missão de um porto é movimentar carga? Não. É ser um vetor de desenvolvimento e geração de riqueza, para o acionista, para os colaboradores, fornecedores, comunidades e diversos grupos de stakeholders.

Então retornamos ao título do artigo: os portos precisam de pontes. Pontes no sentido de conexão com as cidades, com as pessoas. Estas pontes representam uma nova forma de se relacionar com as pessoas, com os stakeholders, de forma mais proativa e assertiva.

Podemos “ver” estas pontes em alguns projetos, estratégias e parcerias exemplificadas a seguir: 

  • adoção de estratégias e programas ESG para todos os elos da cadeia produtiva e da cadeia de suprimentos; 
  • cooperação com outros sistemas portuários; 
  • criação de câmaras técnicas, grupos de trabalho e comitês com participação de membros externos; criação de canais de ouvidoria;
  • criação de programas de premiação e incentivo para os participantes do complexo portuário e do ecossistema regional; 
  • criação de spin-off; criação e efetiva utilização da matriz de materialidade no planejamento estratégico e operações da organização; criação ou participação em fundações ou institutos ou associações;
  • criação ou participação em hubs de inovação aberta; 
  • criação ou participação em incubadoras e aceleradora de startups; declaração de um propósito social; disponibilização de visitas técnicas; estratégia e programas de descarbonização; 
  • estratégia e programas de inovação para o porto; estratégias e programas de energia renovável para o porto, navios e demais usuários; 
  • execução de projetos de pesquisa e inovação para o ecossistema portuário; financiamento de projetos educacionais para a comunidade;
  • integração dos ODS no planejamento estratégico e na remuneração da alta administração; mapeamento e plano de gestão de stakeholders; 
  • parcerias com instituições locais para promover o desenvolvimento regional;
  • planejamento estratégico atrelados aos princípios de sustentabilidade e inovação; programas de diversidade, equidade e inclusão; 
  • programas de engajamento de funcionários e demais stakeholders; publicação de relatório de sustentabilidade ou relatos integrados.

Precisamos ser arquitetos destas novas pontes.

Prof. Sérgio Cutrim

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